Revisão de alguns desfiles da New York Fashion Week, Primavera-Verão 2019-2020
Marc Jacobs
Na falta de ideias faz uma introspeção interior é provavelmente a frase que melhor descreve esta temporada de Marc Jacobs. O designer utilizou as próprias criações que mostrou ao mundo, o dia antes da catástrofe do 9 de setembro no Pier 54 em Nova Iorque, como inspiração para o desfile deste mês.
Com lugar no Park Avenue Armory, Marc fala desta coleção como uma “celebração de alegria, igualdade, individualidade, otimismo, felicidade, indulgência e sonhos”. Looks exuberantes estilo anos 70 deram assim espaço a uma parada colorida com um otimismo nostálgico.
Proenza Schouler
Foi com a adaptação da poderosíssima alfaiataria dos anos 80 para o século 21 que Jack McColllough e Lazaro Hernandez fizeram parte pela 3º vez do conjunto do desfile da semana da moda nova-iorquina. Ombros Largos, calças de cintura subida adornadas com cintos, vestidos e blusas drapeados, óculos minimalistas e argolas deram destaque as mais variadas silhuetas e adicionaram o seu toque moderno a toda a coleção.
Oscar De La Renta
Desde que assumiram o comando da marca que Laura Kim e Fernando Garcia têm transmitido para o papel o seu amor pelas viagens sendo que nesta estação o destino foi a República Dominicana (lugar de nascimento quer de De La Renta quer de Garcia). Dela serviram-se dos tons pastel das Caraíbas, da rafia de praia e da flora tropical para criar caftans de seda, casacos bordados e os tradicionais vestidos de baile pela qual a marca é conhecida. Uma coleção digna de umas férias cheias de glamour.
Tory Burch
No meio de arbustos bem cuidados e um chão de mármore a coleção de Tory Burch foi marcada, tal como o cenário indica, por uma feminilidade antiquada. Porém o que podia ser facilmente ultrapassável, ganhou destaque pelo toque moderno e prático. Burch afirmou que a sua principal inspiração para o desfile foi a Princesa Diana De Gales e a meu ver seria impossível fazer melhor homenagem que esta.
Sies Marjan
Uma marca que não conhecia, mas que sem dúvida me surpreendeu pela positiva. Sies Marjan foi criada pela designer holandesa Sander Lak e é conhecida pelo destaque que dá as cores nas suas exposições. Esta estação Lak aponta que as cores escolhidas tiveram base em tons de verniz e lip gloss. Porém não são só as cores que ganham o lugar de destaque. Também o toque teve o seu momento no pódio, quer fossem couros em textura de crocodilo ou sedas brilhantes.
“Esta coleção é uma rejeição à ironia e ao mau gosto” que “celebra a beleza de ter tempo e liberdade para criar e considerar as nossas escolhas…a antítese da pressa” - Sander Lak.
Carolina Herrera
Wes Gordon foi pela 3º vez a cara por detrás da marca Carolina Herrera e trouxe com ele toda a alegria para a cúpula dos jardins do Battery Park. A categoria “Supper Blooms” trouxe de volta um dos estilos icónicos do nome da casa : uma blusa branca conjugada com uma saia floral de grandes proporções.
Num cenário semelhante ao chá das cinco, esta coleção facilmente nos projeta para um dos episódios de sexo e a cidade, porém com mais classe, como se as protagonistas fossem membros da high society nova iorquina. Ombros Balão, saias com mais comprimento atrás, padrões às bolinhas e florais, trouxeram um toque de anos 80 aos looks mais modernos.
Jeremy Scott
Jeremy Scott é conhecido pelos seus looks extravagantes e fora deste mundo. Mesmo tendo apresentado o seu trabalho com nome próprio, ninguém fica indiferente as semelhanças que este possa ter com a casa Moschino.
Neste desfile presenciamos uma junção de anos 80 com ficção científica. Cores arrojadas, estampados de animal, néons e metálicos uniram-se em harmonia para marcar a diferença de Scott na Fashion Week. Inspirado em todos os músicos que já vestiu, o designer aponta que “a música e a moda são a base de todo a meu trabalho desde o primeiro dia” “por isso decidi criar a minha própria banda: a minha própria ópera de rock sintético”.
Roupas tão excêntricas como estas têm uma audiência muito característica e fora do vulgar. A meu ver não foi dos meus desfiles preferidos pois as roupas tinham mais ar de fatos de Halloween e tinham uma alta falha no que toca a praticabilidade do dia a dia. No entanto tenho que valorizar o facto de terem optado por algo menos comum.
Pyer Moss
As filas gigantes que rodeavam o histórico Kings Theatre no bairro de Flatbuch, tornaram evidente que Pyer Moss continua a ser um dos desfiles mais esperados da fashion week. A marca foi criada por Kerby Jean-Raymond, um designer caracterizado pela excentricidade e pelo orgulho das suas raízes. Ultimamente, as suas criações percorrem as bocas do mundo e não é difícil imaginar porquê.
No desfile final da série “American, Also”, onde Kerby destaca as contribuições da comunidade negra na cultura americana em 3 partes, o designer tomou como inspiração Sister Rosetta Tharpe, a cantora de gospel que tocava guitarra elétrica e que deu a luz o Rock&Roll. Vozes de Soul, R&B, Gospel e Hip-Hop serviram de trilha sonora para looks dignos das grandes estrelas da música. Durante esta trilogia, Raymond procurou ainda colaborar com outros artistas da mesma cultura, tais como: Sean John e o recentemente exonerado Richard Phillips.
A Reebok, marca com a qual Jean- Raymond se juntou em 2018, fez também uma aparição. Na segunda parte do desfile estreou a sua mais recente colaboração com uma linha de modelos com algumas caras conhecidas, tal como Caleb McLaughlin de Stranger Things.
Kerby Jean trouxe de novo os holofotes para a Fashion Week de Nova Iorque, algo que muitos pensavam ser impossível. Apesar do sentimento agridoce com o final de “American, Also”, esperaremos ansiosamente para o ver que nova história o designer nos vai apresentar num próximo reencontro.
Xo Xo
Ana Carolina Freitas
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